Obrigado Leandro Konder!!!
Foi no colar do movimento estudantil no final dos anos
oitenta que caiu sobre as minhas mãos o primeiro livro que li do Leandro
Konder: Marx: Vida e Obra. Era um garoto de 14 para 15 anos que trabalhava no
centro do Rio como aprendiz de Lapidário. Era, também, um dos integrantes do
Grêmio do Impacto (atual Alfa) e fazia curso de Teatro no Procópio Ferreira (Teatro
da Câmara em Duque de Caxias) e carregava um entusiasmo impressionante em meus
pés que levavam-me pelos longos andadões. Quando somos garotos acho que a
coragem e a memória são carregadas nos pés. Anos de muitas descobertas. Nas horas extenuantes que passava dentro dos
coletivos que me levavam de Belford Roxo a Central do Brasil aproveitava para
ler tudo que podia e me emprestavam. Lembro-me que quando comecei a ler Marx:
Vida e Obra, do Leandro Konder, me sentia o maior especialista em Marx que poderia
existir e com todas as dificuldades de oratória que tinha, saia tentando
explicar as ideias do pensador alemão. A leveza, e ao mesmo tempo a instigadora
forma de seduzir o leitor incauto, que o Leandro Konder tinha usado naquele
espécie de manual para iniciantes havia provocado uma curiosidade tamanha
naquele menino-homem que trabalhava para pagar os estudos e ir ao cinema. Logo
após terminada a leitura, dei uma sequência aleatória que me fez mergulhar no
Manifesto do Partido Comunista, A história das tendências no Brasil, Brasil
Nunca Mais, as biografias de Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo; 1968, do Zuanir
Ventura e algumas obras de Bakunin e Mayakovski. No correr da agenda política daquele
período, em minha mente formava-se uma tempestade de ideias, ideologias e
atitudes em relação ao mundo que me conduziam a uma compreensão dialética da
realidade contraditória na qual estava mergulhado: a pujança da violência, as fraternais
e miseráveis espécies humanas que me empurravam ao penhasco da vida, a criativa
força de sobrevivência dos amigos que se amotinava em trincheiras
revolucionárias de pequenas conquistas, a multidão que espremida em blocos são vividos
zumbis que reproduziam o capital e eternizam sonhos nos ir e vir dos trens e
ônibus que deixavam a Baixada Fluminense em direção a Leopoldina, Central do
Brasil e a Praça Mauá. Diariamente me deparava com uma realidade material
dispare entre os morros do meu bairro “Mata muleque”, em Belford Roxo e a Rio
Branco dos Edifícios. Percebia que o capital ou a falta de divisão dele
dilacera vidas. Tenho sulcos em minha mente abertos pelo arado dos livros que
li entre os anos de 1988 e 1989. Deixaram trilhas expostas que continuam a sangrar
por uma sociedade igualitária, consciente e emancipadora do homem. Obrigado
Leandro Konder!
https://www.facebook.com/chicoalencar/photos/a.220261591409433.36789.184693888299537/582269411875314/?type=1
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