Papo com o caro professor Vinhais no Facebook
Prezado Mestre, acho que cabe-me sugerir uma reflexão.
Mesmo com a citada queda, PETR3 fechou em R$ 22,23.
Na época do ex-presidente, ela teve um preço médio de apenas R$ 15,00.
Pessoas que não entendem do Mercado de Ações podem ser influenciadas equivocadamente pela postagem.
Proponho que outros argumentos sejam utilizados...
Em
tempo, o valor mínimo histórico da companhia ocorreu em fevereiro de
2016, quando sua ação fechou em impressionantes e ridículos R$ 5,91.
Lembra quem era a presidente ???
Olá caro professor José Carlos Vinhais, fico
feliz com seu comentário e é uma ótima oportunidade para esclarecermos
alguns pontos importantes desta crise, o que não é possível fazê-lo em
post tão curtinho. Desculpa a demora da resposta, estou sem carro e
cheguei muito tarde em casa depois da aula. Meio sonolento, mas vão aqui
alguns comentários ligeiros e fica o convite para um papo depois.
Primeiro
faço uma análise bem geral e rápida e depois me alongo um pouco mais,
já que a crise tem que ser analisada em uma perspectiva de curto e médio
prazo.
Vamos lá,
O primeiro ponto é
um dos mais delicados e reflete a falta de responsabilidade com o país
em meio aos acordos fechados com o mercado internacional e a disposição
do governo atual em dar garantias de dividendos com base no alinhamento à
dinâmica de ações ordinárias com altos e rápidos spreds, o que coloca o
planejamento da Petrobras pautado em duas âncoras: a primeira, a
variação do mercado e o investimento de curto prazo para oxigenar a
empresa e a, segunda, disponibilidade de cobrir a fuga de recursos com
as reservas e com recursos do tesouro. Aqui, há um desafio grande a ser
enfrentando, tanto do ponto de vista ideológico como mercadológico.
Mercado e o canto da sereia
Não
nego o mercado, só considero a sua artificialidade e a certeza que ele é
determinado e segue a dinâmica de quem domina as regras do jogo e tem a
posse da bola. Assim, sabemos que ações estão sujeitas aos ganhos e
perdas, porém, não há nada de natural no seu movimento. As recentes
crises que afetaram os EUA, a Europa e, também, o Brasil têm mostrado
que a raiz de toda crise está associada, menos a má gestão do que, a
disposição em maximizar o lucro de agentes que preocupam-se pouco com os
efeitos sociais de uma crise de forte impacto econômico. A concentração
de renda dos últimos vinte anos evidência que os dividendos são
privatizados e os prejuízos socializados, a inversão disto é um pecado
capital para muitos que consideram o mercado como um ente (sobre)
natural. O movimento de perde e ganha é igual uma roleta russa que está
sempre com o cano na cabeça daqueles que se dobram as regras do mercado.
Ordinárias e Preferenciais
Sim,
as ações PETR3 vem sendo mais procuradas nos últimos dois anos e,
também, são as ações que se movimentam de forma mais rápida. Vão e
voltam ao país, toda vez que os gestores garantem que o tesouro vai
cobrir os prejuízos. Foi o que aconteceu ao fim do dia, quando o
presidente da empresa, os ministros da fazenda e planejamento acenaram
aos mercados que dariam cobertura ao movimento e garantiriam a
continuidade da politica de mercado da empresa. Podemos conversar como
as preferencias estão sendo transformada de curto prazo e o prejuízo
contido nesta jogada e que pegou de surpresa muitos investidores que não
irão se contentar com dividendos tão próximo. Esta é outra bomba para
as próximas semanas.
Agência de Risco
Devemos
destacar o papel das – com perdão da palavra – cafetinas do mercado, as
agências de risco. Veja bem, a Standard & Poor’s que ficou toda
borrada pelo subprimes, ou a bolha imobiliária, norte americana e que
paga lá, nos eua, pelos seus “erros”, aqui foi, também e muito,
responsável pela queda das ações no governo Dilma e vem dando notas
positivas condicionadas a entrega de setores estratégicos do Brasil ao
mercado, como a previdência aos bancos, petróleo as petroleiras e o
setor de energia e construção para as americanas e chinesas. Toda vez
que o Brasil entrega um pedacinho ganha nota azul, ai os investidores
vem.
Governo Lula/ Dilma
Na
gestão passada, este movimento não ocorreu da mesma forma porque o
governo comprou parte das ações tendo como expectativa a subida de preço
do petróleo e havia a insegurança divulgada no jornal da manhã, das
onze horas, de meio dia e uma hora da tarde, das sete e das onze da
noite. Fora, é claro, as entradas especiais com um novo fato contra a
empresa e a chamada de madrugada com o resumo do dia anterior e as
tragédias do dia seguinte. Não havia como dar seguranças aos
investidores com a campanha que fizeram contra a empresa e assim, a
volatilidades das ações superava o planejamento, o que fez milhões em
fgts ser pulverizado.
Bem, a afirmação inicial
do texto acima pode levar, em tese, a uma comparação errônea em relação
as ações do governos anterior e do atual governo em dividir os prejuízos
da empresa com a sociedade; bem como, a disposição de encobrir erros do
planejamento e a dependência da empresa em se submeter a política
macroeconômica. Falaremos mais adiante sobre isso.
O
segundo ponto, é que o valor de banana que as ações chegaram ao final
de 2016 estão associados a três fatores que foram catastróficos para a
empresa, mas que, também, se refletiram nas indústrias e na cadeia do
petróleo pelo mundo.
3 Pontos da Crise
Tendo
a começar pela ordem inversa das análises comuns em relação a
combinação destes fatores: O primeiro, a maior campanha de difamação
midiática que uma empresa brasileira já sofreu e, talvez, a maior
difamação que uma empresa já sofreu no mundo. Se considerarmos todo o
mal e todos os escândalos já produzidos e abafados pela ExxonMobil, a
Shell, a Chevron e British Petroleum, os casos de corrupção de governos,
o lobby em seus países, as guerras que já mataram milhões de jovens na
África e Ásia, os governos ditatoriais sustentados pela posição
estratégica do petróleo, os vazamentos e acidentes de petróleo e
derivados, a espionagem industrial, e os problemas com os outros
produtos da cadeia energética onde elas atual, a Petrobras é uma
guerreira e sobrevivente ao disputar com as grandes.
Ela
não só disputou no mercado mundial, mas tomou lugar de algumas destas
empresas. Acho que você lembra que os segredos, estratégias, campos,
potencial de exploração e dinâmica de investimentos da empresa estavam
nos documentos vazados pelo ex-agente americano e que o interesse de
Estado é o interesse das empresas daquele país e de seus sócios.
Este
fator nos conduz ao segundo ponto: o planejamento estratégico
desenvolvido pela empresa que estava associado a transformação que o
país e a própria empresa sofreu ao sair de um valor de mercado de 15
bilhões, em 2002 para mais de 340 bilhões em pouco mais de uma década.
Meu caro Professor, acho difícil encontrarmos um caso de tanto sucesso
quando olhamos o posicionamento estratégico da empresa associada a
política macroeconômica. Com isso não estou dizendo que não houve erros,
excessos ou graves problemas de gestão ou mesmo de corrupção. Esta é
uma longa conversa e que tem muitas nuances, sobretudo, quando
analisamos o nosso caso e comparamos com outras empresas privadas que
sofrem dos mesmos problemas.
No entanto, a questão
central aqui é que o planejamento e os investimentos da empresa estavam
ligados aos fatores externos e internos, com demandas puxadas pela china
e com uma forte pressão do mercado de consumo brasileiro, associado a
uma política distributiva. Desta forma, os investimentos alimentavam uma
cadeia produtiva que incentivava outras cadeias de produção industrial,
comercial, financeira e de serviços que se descentralizava pelo país
onde as operações da cadeia petroquímica se desenvolvia. Sim. Com
certeza ocorreram muitos erros de atrasos de obras, superfaturamento e
tantos outros, mas, também, eu lembro, por exemplo, dos nossos alunos
invadindo as faculdades, cursos técnicos e procurando formação para o
mercado de trabalho.
Orgulho das sandálias Havaianas
Impressionante
que vivemos um longo momento de entusiasmo que se espelhava por todo
país. Este fator é determinante para entendermos qual o papel de uma
indústria do tamanho da Petrobras para a promoção do desenvolvimento do
país. Sempre que passo por dentro do campus da ufrj me impressiono com a
associação ciência, tecnologia, laboratórios e investimentos e, como
ali, me solidifica a certeza que investimentos para desenvolvimento em
tecnologia em um país em desenvolvimento só ocorre por empresas
estatais, já que empresa estrangeira não vão querer gerar royalties para
o seu país. Exemplo, foi o recente setor de defensivos agrícola da
Petrobras “doados” as empresas estrangeiras. Eles adoraram receber
tantas pesquisas de ponta de mão beijada.
O
último fator é que em 2016 o petróleo despencou em nível mundial
chegando ao seu valor mais baixo, com $30,00 dólares o barril. A
conjugação de fatores que provocaram a queda do valor do barril do
petróleo não cabem aqui, mas é importante frisar que provocou prejuízos
em todo o mundo e que as empresas de energia que apresentaram lucro não
decorreu da cadeia petroquímica.
Java Jato +
campanha ostensiva midiática + queda do preço do baril do petróleo +
política de investimento impactada pela queda da demanda interna e
externa, provocaram o crescimento da dívida e das quedas das ações.
Resultado, empresas estatais de outros países e as grandes do petróleo
compraram ações, ativos, pré-sal e parte significativa de setores antes
estratégicos da empresa.
Governo Temeroso
Por
fim, cabe uma análise do cenário mundial atual e de como a política
desenvolvida pelo Temer, pelo Pedro Parente – com longo histórico de
serviço de vendas de riquezas nacionais a empresas estrangeiras, pelas
pastas da fazenda e planejamento ser uma espécie de desmontagem de nosso
potencial produtivo, doação de ativos e condenação à miséria de
milhares de brasileiros.
Ao contrário de 2016 onde o
modelo de aquecimento do mercado estava cansado, quando a china parou
de alavancar as commodities e que parte considerável da sociedade
brasileira já tinha trocado geladeira, carro, eletrônicos e tantos
outros produtos provocando um desaquecimento do mercado; o cenário atual
é marcado por uma subida progressiva do preço do barril de petróleo,
reaquecimento do mercado europeu e norte-americano. Diversificação dos
investimento da china e paulatina subida do mercado oriental. O
realinhamento da Rússia em relação ao setor energético impactando nas
guerras do oriente médio e na revalorização do petróleo que já chega a
mais de $70 o barril. Cenário bem diferente para os caras oferecerem
tanto dinheiro aos investidores.
Quanto ao cenário
interno e a gestão de nossos ativos acompanhamos a progressiva entrega
dos setores estratégico do setor energético. Com sucateamento e
“doações” de navios, poços de petróleo, sondas, diminuição do refino e
compra de petróleo e derivados como forma de pagamento dos setores
transferidos as empresas estrangeiras. Soma-se a este saco de maldades, a
política de alinhamento ao mercado internacional, o que garante as
empresas que entrarem no país a continuidade da política de preços
atrelada a variação da commoditie; mesmo que internamente a inflação
seja baixa ou até, quase negativa. Importante notar que é baixa porque
estamos em crise. Quer dizer que, mesmo com a economia estagnada e o
desemprego seja crescente o preço da gasolina e do diesel e derivados
vão subir, já que devemos honrar o suicídio determinado pelo mercado.
Brasil em Perspectivas
Se
levarmos em consideração que o mercado internacional está se aquecendo
enquanto estamos congelando, o cenário será cada dia mais trágico com
ciclos de instabilidade política tão curtos e diários que nos levará a
um profundo colapso institucional. Já cresce o número de pessoas que
querem abrir mão de sua liberdade para entregar a um governo tirânico
qualquer. Sintoma da crise que se arrasta por muito tempo, após um curto
período em que o Estado cumpriu duas funções básicas: alocação de
serviços com distribuição de rendas. Se levarmos em consideração que
tivemos quinhentos anos de transferência de riqueza para as elites, 12
anos de políticas sociais promoveram uma breve revolução… mas este é um
outro papo, polêmico e importante de ser realizado.
Desta
forma, a diferença que há entre as ações ordinárias, as preferenciais, a
gula do mercado, o valor de mercado das ações, o sucateamento da
empresa e o futuro dos transportes, bem como da Petrobras estão muito
mais ligado ao Fora Temer do que as expectativas psicologias da
(ir)racionalidade do mercado com sua roleta russa.
Obrigado pela oportunidade do diálogo
Será
um prazer sentar para um café e pensarmos em um seminário ou palestra
com diferentes pontos de vista sobre as perspectivas do país. Acho
importante levarmos algumas análises para nossos alunos e ajudá-los, e a
nós mesmos, na construção de cenários para planejamento de suas vidas,
carreiras e cidadania.
Meu fraternal abraço.
Tentei, por duas vezes responder no facebook, avisou que meu texto estava em análise. Credito o fato ao nome das empresas envolvidas. Já era duas horas da manhã, tinha que acordar as cinco para trabalhar, postei aqui.